Operação da Polícia Civil mira alvos gaúchos e paulistas suspeitos de ligação com facção nacional

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Operação Pegasus II

A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro (DRLD) e Divisão de Inteligência (DIPAC), do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), deflagrou a segunda fase da Operação Pegasus nesta quarta-feira (05). A ação visa a repressão dos delitos de lavagem de capitais e organização criminosa da cúpula do narcotráfico gaúcho e seus associados operadores financeiros ligados à sintonia final de uma facção nacional.

No decorrer da investigação e no dia de hoje, foram solicitados e cumpridas 304 medidas cautelares entre quebras de sigilos bancários, fiscais, financeiros, telemáticos, mandados de busca, prisões, indisponibilidade de bens móveis, imóveis e ativos financeiros/mobiliários na bolsa de valores e em criptomoedas.

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Apreensão no Chuí
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Coletiva de imprensa da Operação Pegasus II

Três pessoas foram presas até o momento, todas em São Paulo. Dinheiro, arma, munições, celulares e documentos foram apreendidos. Os Estados abrangidos são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Somando-se à fase 1, onde foram cumpridas 502 medidas, são 806 medidas cautelares investigativas e operacionais até o momento, em dez Estados da Federação. A fração operacional de hoje teve solicitadas 23 prisões entre preventivas e temporárias (três prisões preventivas dos líderes paulistas foram as decretadas, 67 mandados de busca e 45 alvos para indisponibilidade de ativos dentre bens móveis, imóveis, contas bancárias, ações e criptomoedas).

Segundo os delegados Adriano Nonnenmacher e Wagner Dalcin, a organização criminosa investigada movimentou durante as duas fases cerca de 705.385.656,90 milhões de reais. Um alvo da fase 2, moradora de Ribeirão Preto/SP, movimentou R$ 101.262.829,00 reais. Outro alvo do núcleo Sul do Estado, movimentou R$ 50.686.422,00 reais em alguns meses, assim como outros gaúchos alvos hoje, em quantias milionárias mediante dissimulações sofisticadas.   

Nesta ofensiva, estão sendo empregados 200 policiais civis, com apoio operacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, através do Projeto M.O.S.A.I.C.O., viabilizando o trabalho integrado entre as Polícias Civis dos Estados, Polícia Civil de São Paulo, por meio do Denarc/SP e DPs de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto/SP, GIE, Deic, DPM, Core, Divisão Aérea, DPI, Dracos Bagé, Caxias do Sul, Rio Grande, Xangri-lá, Delegacia Regional de Rio Grande, Delegacias de Santa Vitória do Palmar e Chuí/RS, DP de São José do Norte, DP de Sarandi, DP de Dom Pedrito, Deic/DRE Santa Catarina, DP de Paranaguá/PR, DP de Ponta Porã/MS e Polícia Penal (Presídios). 

As três prisões preventivas decretadas são de grandes operadores financeiros de São Paulo, com suspeitas de serem ligados a sintonia final. Somente estes três, presos hoje, concentram a maior parte dos valores espúrios pagos pelos traficantes gaúchos, redistribuídos depois para demais Estados do Brasil para ações da facção paulista e com retorno para o Rio Grande do Sul, através do Chuí, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande. Nesta fase, dois novos alvos foram identificados, ambos moradores de São José do Norte/RS, que recebiam valores de São Paulo, suspeitos de subsidiar ações da facção nacional na região portuária gaúcha. Na fase 1, já tinham sido identificados e indiciados alvos com mesmo modus operandi, dentre eles um gaúcho de Rio Grande, atuando em Paranaguá/PR. Traficantes de Porto Alegre e grande Porto Alegre também pagam de forma maciça aos operadores de São Paulo.

O modus operandi principal da quadrilha é uma lavagem de capitais sofisticada, não fixando grande patrimônio imobiliário em nome próprio ou de laranjas, nem muitos veículos, mas sim usando o sistema financeiro nacional com centenas de transações bancárias diárias dissimuladas, pulverização, fracionamentos, smurfing, uso de cheques ao portador para saques e depósitos em espécie em vários Estados, fronteiras, zonas portuárias, uso de bancos digitais com dezenas de transações em um mesmo CPF ou CNPJ para burla a fiscalizações administrativas, uso de financeiras, depósitos e saques em lotéricas, mescla de ativos ilícitos e lícitos em empresas reais, integralização de capital espúrio em algumas destas pessoas jurídicas, uso de criptoativos e envio de ativos ao Rio Grande do Sul, pagamentos a transportadores de drogas nas fronteiras do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazonas, bem como junto aos portos de Paranaguá/PR e Rio Grande/RS.

As cidades abrangidas são Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul, Alvorada, Caxias do Sul, Xangri-lá, Sarandi, Bagé, Dom Pedrito, São José do Norte, Santa Vitória do Palmar, Florianópolis/SC, Camboriú/SC, São Paulo capital/SP, Mairiporã/SP, Franco da Rocha/SP, Francisco Morato/SP, Ribeirão Preto/SP e São José do Rio Preto/SP. Diligências também são feitas pelas polícias locais em Garopaba/SC, Paranaguá/PR e Ponta Porã/MS.

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Foi comprovado, nos mesmos moldes da Operação Irmandade em 2021, que facções gaúchas enviam pagamentos de logística e distribuição de lucros à facção paulista. Na operação Pegasus II, de hoje, fica ainda mais comprovado tal fato, visto que identificados e presos preventivamente líderes deste principal núcleo financeiro de São Paulo, suspeitos de ligação à sintonia final, além da comprovação de valores retornando a Porto Alegre e região do Sul do Estado, para distribuição de lucros lavados e para ações da facção nacional no Rio Grande do Sul.

O grupo realizou durante a investigação milhares de transações bancárias para o afastamento, mediante dissimulação, usando de tipologias de fracionamento para burla a fiscalizações (valores pouco abaixo de 10, 50 e 100 mil) e smurfing, remessas em baixos valores em muitos casos (usando correspondentes lotéricos, bancos digitais, saques em espécie, câmbio dólar, saques em praças de fronteira e portos após emissão de cheques ao portador, criação de pessoas jurídicas interestaduais reais e de fachada para gerenciamento de contas direto de São Paulo e recebimento de créditos de traficantes gaúchos e nacionais, dentre outras condutas sofisticadas). De forma simultânea, diariamente, entre toda a gama de gerentes e laranjas (operadores de vulto) passavam os créditos espúrios de um banco para outro, em contas de sua própria titularidade, entre diferentes bancos tradicionais, digitais e exchanges de criptomoedas, para depois enviar a outros pontos, com o objetivo de criar um emaranhado doloso de transações bancárias para afastar da origem ilícita e tentar impedir rastreio contábil até a chegada ao destino/função final.

Nas células gaúchas, além de operadores/gerentes da zona leste de Porto Alegre, bairros Cascata, Zona Sul, e outra facção da grande Porto Alegre identificados, estão sendo alvos suspeitos do sul do estado, que recebiam os valores da célula de São Paulo, após tais ativos saírem dos gaúchos, para retornar ativos já branqueados a estas facções (após o núcleo paulista fazer circular entre si e nos demais alvos dos outros 10 Estados), em espécie, moeda corrente nacional e dólar. Paralelo a isso, os doleiros do Sul do Estado ainda enviavam créditos a uma grande Exchange de criptomoedas, que também recebe créditos dos paulistas presos no dia de hoje, formando um ciclo vicioso de dissimulações e ocultações no sistema financeiro nacional.

Durante a investigação, um grande operador logístico e financeiro de Porto Alegre foi preso pela 4ªDIN/Denarc com 1,5 tonelada de maconha e R$ 500 mil reais em espécie, bem como apreendidos na zona leste da capital, em outra ação, fuzis, munições e cocaína. Atualmente este alvo está preso preventivamente por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Conforme os delegados, suspeita-se que somente este alvo teria movimentado cerca de 8 toneladas de drogas ao estado, através da transportadora de Ponta Porã/MS, também alvo com bloqueio de bens de pessoa jurídica e indiciamento de seu sócio. Outro alvo de hoje, um gerente financeiro preso em São Paulo, movimentou 55 milhões em seis meses em suas contas pessoa física e jurídica neste Estado, além de manusear as contas de empresas em Ponta Porã/MS, realizando mescla de valores nas empresas.  

A Operação de hoje se interliga com as investigações dos líderes estaduais de alvos da Operação Irmandade, Borgata e Magna Ópera, realizada pela DRLD/Denarc em anos anteriores, por meio de algumas pessoas físicas e jurídicas em comum, onde se descortinaram a associação a nível nacional entre os traficantes gaúchos e de outros estados, bem como intercâmbio de ativos. Na Operação Magna Ópera, foi localizada uma fazenda de 42 milhões de reais em Mato Grosso, ligada à facção do Vale dos Sinos.

Como forma de dissimular o branqueamento de ativos ilícitos, outra modalidade era os descontos de “cheques” emitidos por eles mesmos, como forma de evitar o transporte em estradas, evitando abordagens das polícias rodoviárias. Eles emitiam os cheques da praça de São Paulo e sacavam em agências de Ponta Porã/MS após se deslocarem até lá. Somente em tal modalidade sacaram, de forma fracionada, com períodos de intervalos para não chamar a atenção, cerca de 5 milhões de reais, devidamente comprovados nos autos, com presença física dos três alvos paulistas nas agências de Ponta Porã e São Paulo.

Nesta fase 2, tal modus operandi foi comprovado como sendo feito também pelo núcleo do Sul do Rio Grande do Sul, onde os operadores/gerentes usavam/portavam cheques emitidos pelos laranjas recrutados, ou estes recebiam cheques como pagamentos daqueles, gerando emaranhado doloso para dissimulações até o destino final (lucros, pagamentos, dentre outros). Nas buscas da fase 1 foram encontrados cheques em branco emitidos pelos laranjas, corroborando as provas bancárias. Com isso, suspeita-se que eram realizados pagamentos às bases da facção nacional nas fronteiras e portos, bem como pagamentos a operadores logísticos que trazem drogas dos países vizinhos, incluindo o Rio Grande do Sul.

As investigações também verificaram que um operador gaúcho, natural de Rio Grande/RS, realizava pagamentos e transportes de valores ao Porto de Paranaguá/PR, sendo inclusive flagrado com R$ 478.700,00 reais em espécie em direção a esta cidade. Ele enviava créditos lavados da mercancia de drogas interestadual diretamente às empresas ligadas à célula paulista, além de ser o suspeito de criar empresas reais e fantasmas para a facção nacional. Na Operação Irmandade, em 2021, um alvo paulista foi preso preventivamente em São Paulo, suspeito de ligação com este gaúcho, responsáveis por criarem empresas para a facção nacional, onde traficantes depositavam valores. 

Conforme o Diretor de Investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro, a DRLD/Denarc vem realizando estas operações policiais interestaduais desde 2019, em várias fases menores, visando coibir a associação de facções gaúchas a outras de São Paulo, evitando a instalação no Estado por parte destas, bem como propiciando inquéritos e sentenças céleres. Já o Diretor do Denarc, delegado Carlos Henrique Braga Wendt, afirmou que as operações da DRLD/Denarc que levam a indiciamentos por lavagem de dinheiro e organização criminosa contra a cúpula do narcotráfico gaúcho, também colabora para a redução de índices de violência nas ruas entre as camadas mais inferiores destas organizações.

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