Irga contrata empresa especializada em falcoaria e manejo de fauna para EEA

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) contratou empresa de apoio externo para a elaboração do plano de manejo através de serviços técnicos especializados, devido aos acontecimentos das últimas safras, quando houveram perdas irreversíveis prejudicando os trabalhos de pesquisa na Estação Experimental do Arroz (EEA) em Cachoeirinha.

A infestação de aves na áreas da EEA vem apresentando escala crescente, as técnicas de afugentamento (foguetes, redes, gavião robô,
etc.) utilizadas sozinhas não estão sendo suficiente.

Os pássaros se alimentam do arroz produzido nas áreas experimentais das Estações de Pesquisa, gerando prejuízo para os experimentos e compromete o ano agrícola de pesquisa. Os pombos por exemplo, alimentam-se dos grãos de soja semeadas nos experimentos já os ratões do banhado se alimentam das plantas em estádio vegetativo e reprodutivo de arroz, causando danos irreversíveis. Caso não seja feito o controle adequado e preventivo, fica impossível usar os dados experimentais, devido a baixa confiabilidade dos mesmos, causados pelo ataque desses animais.

Para Flávia Tomita, diretora técnica do Irga, a contração do serviço é de grande importância para pesquisa da autarquia.

“Com a consultoria será possível a elaboração de um Plano de Manejo que deverá resultar em
uma ferramenta de apoio atualizada, com caráter de orientação estratégica e operacional, que possibilite a correta gestão técnica e administrativa.”

Sobre a Charrua Falcoaria

A empresa está centrada na prestação de serviços ambientais, especialmente controle e manejo de fauna sinantrópica nociva, que refere-se a animais que interagem de forma negativa com a população humana, causando transtornos significativos de ordem econômica e/ou ambiental, ou que representem riscos à saúde pública. A atuação tem como base o controle biológico, utilizando técnicas de Falcoaria como ferramenta principal, inserindo predadores naturais das espécies-alvo sem qualquer prejuízo aos cultivos, ao meio ambiente e à saúde da população.

1) O que é feito?
O trabalho de Controle e Manejo de Fauna utilizando a Falcoaria no campo da EEA (Estação Experimental do Arroz) do IRGA em Cachoeirinha – RS teve início em 2019. A EEA passou a incorporar o Controle e Manejo de Fauna como pratica institucional após algumas alternativas de afugentamento de bandos de chupim (Molothrus bonariensis) e pomba-doméstica (Columba livia) sem resultados eficientes.

A Falcoaria é descrita como a arte de adestrar aves de rapinas para a caça em seu ambiente natural. Portanto, a utilização deste tipo de manejo influencia diretamente no comportamento das aves no local. A presença constante de um predador faz com que as demais espécies passem a alterar o seu comportamento evitando permanecer ou deslocar-se pela área de manejo devido a um maior risco de predação.

No IRGA, são utilizadas três espécies de ave de rapina: o falcão-peregrino (Falco peregrinus), o falcão-de-coleira (Falco femoralis) e o gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Estas espécies, ocorrem naturalmente no continente americano e são algumas das aves mais utilizadas na Falcoaria devido ao seu comportamento de voo em vida livre que são reproduzidos na execução da técnica. A atuação de cada uma destas espécies variam de acordo com as espécies-alvo da estação experimental.

2) Porque que é feito?
As boas práticas agrícolas consistem de manejo integrado aos ecossistemas, portanto para uma produção de alimentos com baixo impacto são necessárias soluções baseadas em práticas integradas com a natureza. Todo animal que tem seu crescimento populacional descontrolado, como é o caso de algumas espécies de aves no IRGA, é um sinal de alerta para um desequilíbrio ambiental e as aves de rapina atuam como controladores naturais de populações na cadeia alimentar.

No caso específico da EEA IRGA Cachoeirinha, as espécies que apresentam crescimento populacional são os chupins (Molothrus bonariensis) e as pombas-domésticas (Columba livia). A fase inicial do desenvolvimento das plantas e o período de formação ou enchimento do grão são as etapas mais suscetíveis à predação das aves.

3) Como é feito?
O monitoramento das espécies-alvo utilizando a Falcoaria é realizado diariamente durante todo o ano desde o manejo de solo, plantio, colheita e pós colheita.

A rotina diária inicia com rondas no entorno do sítio de cultivo. Identificamos os locais com maior incidências de aves e quais as espécies que estão presentes na área. Os períodos de maior atividade das aves incluem o início e o final do dia. Após a identificação das aves e dos locais, definimos a intervenção mais adequada para o afugentamento considerando o plantel de aves treinadas e disponíveis.

A performance de cada uma das aves do plantel é obtida através do treinamento constante que busca melhorar o condicionamento muscular e a estratégia de caça de cada indivíduo em diferentes extratos do ecossistema. As três espécies utilizadas na estação experimental do IRGA possuem as seguintes características:

Falcão-peregrino (Falco peregrinus): considerado o animal mais rápido do mundo, possui uma estratégia de caça que consiste em um voo altaneiro, ou seja, a ave atinge alturas superiores a 100 metros do solo a fim de observar a localização e movimentação das presas. Assim que o falcão centraliza o voo nos bandos da espécie-alvo, ele desce em um curto espaço de tempo a fim de alcançar a presa. É neste momento que o falcão-peregrino pode atingir velocidades de até 390 km/h, abatendo suas presas com o impacto. No IRGA, o peregrino é utilizado principalmente para afugentar pombos-domésticos (Columba livia).

Falcão-de-coleira (Falco femoralis): diferentemente do falcão-peregrino, o falcão-de-coleira geralmente não atinge grandes altitudes em sua atividade de caça. Com uma estratégia denominada “perseguição-de-cauda”, o falcão-de-coleira apresenta um voo mais acrobático, exibindo grande habilidade de manobra para perseguir suas presas. Deste modo, esta espécie pode ser utilizada para afugentar espécies mais persistentes, visto que o comportamento de perseguição-de-cauda só acaba com a captura da presa ou quando um de nossos falcoeiros decidir concluir o treino. No IRGA, o falcão é utilizado principalmente para afugentar chupins (Molothros bonariensis).

Gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus): esta espécie de rapinante apresenta uma constituição mais robusta, de tamanho superior aos falcões. O gavião-asa-de-telha possui um comportamento de “senta-e-espera”, perseguindo e/ou capturando suas presas na base da emboscada. Além de ser uma espécie mais apta a agir como sentinela no campo (em poleiros artificiais instalados pelos falcoeiros), o gavião pode ser empregado na técnica de car-hawking (car = carro, hawk = gavião). Nesta técnica, gavião e o falcoeiro são conduzidos dentro de um carro, a partir do qual o gavião é lançado em direção ao bando de presas. Desta forma é possível utilizar o fator-surpresa a fim de assustar as espécie-alvo, que não esperam ver o predador tão de perto no momento em que este sai do carro. No IRGA, o gavião é utilizado para afugentar outras espécies de médio porte como marrecas, maçaricos e garças.

É importante salientar que um ambiente equilibrado conta com a presença de predadores naturais. Portanto, suplementamos nossa atividade com técnicas de enriquecimento ambiental que visam estimular o uso da área por rapinantes selvagens – indivíduos que não fazem parte do nosso plantel e que têm ocorrência natural nas áreas do entorno. Assim, este método vai de encontro à Falcoaria na medida em que também promove o equilíbrio ecológico entre predador e presa até mesmo nos momentos em que nossas aves não estão voando na área.

4) Qual a importância?
Desde que iniciamos os trabalhos em 2019, houve uma redução significativa na predação dos experimentos pelas aves no EEA IRGA Cachoeirinha. A cada ano o trabalho de controle e manejo de aves do local contribui com resultados significativos para a área experimental possibilitando a condução dos experimentos de forma mais sustentáveis e com o mínimo de perdas em produtividade.

Partimos do princípio de que todos os ambientes agrícolas podem apresentar desequilíbrio ecológico. Isso ocorre porque há sempre abundância de recursos (ex: grãos) para a fauna silvestre, porém devido à descaracterização dos habitats naturais (ex: supressão vegetal, terraplanagem) há escassez de predadores em escala local. Por isso, não é raro presenciar bandos numerosos de aves silvestres frequentando e consumindo o cultivo, resultando em perdas na produção.

A ocorrência natural das aves de rapina tem diminuído em nossos ecossistemas devido a atividades que degradam seus habitats naturais. A Charrua trabalha para difundir o papel ecológico dos rapinantes e promover a conservação dessas espécies importantes para o equilíbrio dos ambientes naturais. Por isso, ajude a cuidar e manter populações de aves de rapina.

O uso de metodologias integrativas é uma forma de resolver um problema para a agricultura – a perda de cultivos por animais silvestres – de uma forma sustentável, e que permite a conscientização do produtor e da população em geral em relação aos processos ecológicos que ocorrem naturalmente no contexto desta atividade.

O investimento total é de R$ 696.000,00, o contrato tem vigência de 12 meses.

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